“Viu o presente de dia das mulheres que recebemos?”

Not the girl next door
2 min readMar 9, 2021

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Uma amiga diz que ser mulher nesse mundo é difícil, mas ser mulher no Dia da Mulher é pior ainda. Aliás, qual o sentido da data?

Por muito tempo apenas tinha repulsa pela data “comemorativa”, mas esse ano pude entender que a data desde de sua origem é política, apenas. Um dia para falar sobre nossa história, nossa ancestralidade, sobre o que nos foi negado e hoje é nosso por direito através de mérito próprio. A data que existe para nos lembrar que desde o ventre já vivemos com estigmas. É ser expulsa num processo fisiológico do corpo da sua mãe e você já virou um corpo político.

No dia 8/3 desse ano, me senti conectada com esse propósito enquanto enfrentava a jornada diária dentro do ônibus para casa e uma senhora sentou no banco de trás, ligou para outra mulher e falou com empolgação na voz: “Viu o presente de dia das mulheres que recebemos? Lula foi absolvido de todos os processos”.

A sintetização do Dia da Mulher em apenas uma frase sem compromisso me veio com uma porrada no peito. Era sobre isso o sentido da data, sobre meninas, adolescentes, jovens, adultas ou mulheres mais velhas falando sobre política. É sobre entender quem somos, onde devemos estar como sociedade e estar ali pertencendo. Aqui não falo sobre partidos, o diálogo dela foi só uma ponte para o ponto alto desse dia, as mulheres com consciência política.

Eu não sei o nome dessa senhora, ela não sabe como a sua conversa reverberou em mim, muito mal sabe que eu a ouvi, mas ver uma senhora se atualizando do cenário político brasileiro, uma das piores conjunturas mundiais, e trocando esse senso crítico com outra no Dia Internacional da Mulher me encheu o coração de esperança.

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Not the girl next door

“Entro e saio, dentro, é só ensaio” — Paulo Leminski.